A segurança aérea é um dos pilares mais críticos do transporte moderno, dependendo diretamente da excelência técnica e da qualificação dos profissionais envolvidos. No entanto, a escassez de mão de obra especializada e a falta de investimento em formação continuada têm se tornado desafios significativos para o setor, tanto no Brasil quanto no mundo. A engenharia aeronáutica, área essencial para a manutenção e desenvolvimento de sistemas seguros, enfrenta uma crise de capacitação que pode comprometer a confiabilidade das operações aéreas.
A formação de engenheiros aeronáuticos no Brasil é concentrada em poucas instituições de excelência, como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e algumas universidades federais. Apesar da alta qualidade desses cursos, o número de profissionais formados anualmente é insuficiente para atender à demanda do mercado. Segundo dados da Associação Brasileira de Engenharia Aeronáutica (ABEA), o país forma cerca de 200 engenheiros aeronáuticos por ano, um número considerado baixo para um setor que movimenta bilhões de dólares e é estratégico para a economia.
“Além da quantidade, a qualidade da formação também é um ponto de preocupação. Muitos profissionais ingressam no mercado sem acesso a treinamentos práticos avançados ou a ferramentas modernas de simulação e análise. Isso limita sua capacidade de lidar com sistemas complexos, como os de controle de voo, navegação e diagnóstico de falhas, que são essenciais para a segurança das operações”, avalia o Presidente da APEAAP, Engenheiro Mecânico e de Segurança do Trabalho, Emanuel Barreto Rios.
A fiscalização por parte dos órgãos competentes, como a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e os Conselhos Regionais de Engenharia (CREA), é fundamental para garantir que os profissionais atuem dentro dos padrões técnicos e éticos exigidos.
O Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo) iniciou uma força-tarefa para realizar 577 diligências em empresas responsáveis pela manutenção de aeronaves e fabricação de peças e componentes aeronáuticos.
“Essas atividades demandam um engenheiro responsável, além é claro de todos os demais colaboradores envolvidos. Precisa de alguém que assuma a responsabilidade sobre cada atividade exercida”, diz Vinicius Marchese, presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea). De acordo com ele, o sistema Confea/Crea tem identificado uma falta crescente de mão de obra especializada, que inclui a engenharia mecânica, mas vai além.
“É um problema de país. Existe uma falta de profissional em diversas áreas da engenharia. A gente vem perdendo profissionais. Tem uma falta de mão de obra em momento de crescimento da aviação comercial e civil, que é um segmento sensível, que demanda verificação, fiscalização, e que está ligado a profissionais da engenharia”, afirma Marchese.
A falta de profissionais qualificados e a deficiência na formação têm um impacto direto na segurança aérea. Aeronaves modernas são equipadas com sistemas cada vez mais complexos, que exigem conhecimento técnico avançado para operação e manutenção. Quando os profissionais não estão adequadamente preparados, aumenta a probabilidade de erros humanos, falhas técnicas e, consequentemente, acidentes.
Além disso, a escassez de mão de obra especializada pode levar à sobrecarga de trabalho para os profissionais disponíveis, aumentando o risco de falhas por exaustão ou falta de atenção. Esse cenário é particularmente preocupante em um setor onde a precisão e a confiabilidade são fundamentais.
“Para enfrentar esses desafios, é essencial investir na formação de novos engenheiros aeronáuticos e na capacitação continuada dos profissionais já atuantes. Isso inclui a expansão de cursos de graduação e pós-graduação na área, a criação de programas de estágio e treinamento prático, e o desenvolvimento de parcerias entre instituições de ensino, empresas e órgãos governamentais”, finaliza o Presidente da APEAAP, Eng. Emanuel Barreto Rios.
Por Fabricio Oliveira – MTB 57.421/SP